VA - Trojan Reggae Party (Recorded Live) [ R A R E ]
Bom, o forte do blog não é early, mas é sempre bom ver o reggae no comecinho, com o talento de gente como Nicky Thomas, Pioneers, John Holt, etc. O disco "Trojan Reggae Party" é a gravação de uma festa da gravadora Trojan em 5 de outubro de 1971 no Antler Lounge em London, que reuniu grandes nomes da época num único show. Vale lembrar que esse é um dos poucos registros de shows ao vivo do período early. No disco, destaca-se de tudo, mas os meus preferidos são: a versão de Nicky Thomas para "Rainy Night in Georgia", a versão dos Cimarons para "Stick By Me" de John Holt e a pequena participação de Count Prince Miller com Mule Train. Há ainda a participação de Bruce Ruffin, numa rara aparição ao vivo. O disco foi lançado ainda em 1971, mas, ao que parece, com uma tiragem limitada, pois até hoje o disco é bem raro.
VA - Trojan Reggae Party (Recorded Live) The Cimarons - Come Tomorrow The Cimarons - Stick By Me Nicky Thomas - Rainy Night In Georgia Nicky Thomas - Midnight Hour/Lay Lady Lay Medley Bruce Ruffin - Rain Bruce Ruffin - Bitterness Of Life Count Prince Miller - Mule Train The Pioneers - La La Means I Love You Dandy - You Don't Care Delroy Wilson - Better Must Come Honey Boy - Jamaica Greyhound - Move On Up Greyhound - You Made Me So Very Happy
Há quem diga que a década de 80 não trouxe bons frutos, se comparada a genialidade da década de 70. Em parte isso é bem verdade, mas existem excessões, boas excessões, especialmente os discos de lovers, que não sofreram muita pressão para mudar a batida e transformar-se num reggae feito quase que exclusivamente sound systems como o rub-a-dub. Não digo, é claro, que o rub-a-dub seja ruim, mas é fato que a batida está diretamente ligado com os sound systems. Os lovers, que não precisavam agradar aos donos e Dj´s de sound system, podiam continuar com uma certa leveza típica de anos anteriores, fazendo, ainda, alguns Rockers, também. Dessa época pode-se destacar Eddie Lovette, Johnny Orlando, a fase 80-84 de Eric Donaldson, etc.
O disco a seguir traz a belíssima e inconfundível voz de David Isaacs fazendo da década de 80 mais suportável. David começou a carreira no meio da década de 60, tendo trabalhado com Lee Perry em sua fase rocksteady. No meio da década de 70, gravou, também, com o mestre Bunny Lee, resultando numa fusão que gerou belissimos frutos. Na década de 80, David entra para o grupo The Itals, com o qual visitou o Brasil em 2001. O disco traz uma seleção ideal de músicos: Robbie Shakespeare, Errol "Flabba" Holt, Earl "Chinna" Smith, Winston Wright, Bobby Ellis, dentre outros. O resultado é um disco muito bem arranjado, completado pela linda voz de David. Destaca-se a linda versão de All of these tears, a melodia matadora de Have I Sinned. Mas uma, dentre todas, se sobressai. Sucesso durante anos nas radiolas do Brasil, a lindíssima versão de People Do Lovers Rock, revisitando Slim Smith. Há quem diga que David pirou quando ouviu sua música sendo tocada por uma radiola num festival em São Luís. Não tem jeito, é Lovers com estilo. =)
David Isaacs - Love and Devotion Give Me A Love (Disco Style) Love & Devotion Love & Affection (Disco Style) People Do Lovers Rock After All These Years Have I Sinned My Darling Patricia Humpy Dumpy I Hope You Won't Hold It Againt Me Daddy Don't Leave Mommy That Way
Hey people! Lovers from everywhere... No meio da década de 70, em Londres, um novo movimento dentro do reggae surgiu. O que ficaria conhecido como UK Lovers, nada mais é do que reggae cheio de sentimento feito na Inglaterra com influência claríssima do early reggae e do soul. O movimento foi tímido, mas acabou revelando nomes como Louisa Marks, e ainda fazendo com que artistas jamaicanos migrassem para a Grã-Bretanha para continuar gravando, como BB Seaton, Pioneers, entre outros. O disco a seguir foi lançado na década de 70 e traz uma compilação das produções de Ronnie Williams, que além de produtor, modelou os arranjos do disco. Eu não tenho certeza se Ginger é exatamente britânica, mas o fato é que todos seus discos foram lançados na Inglaterra e toda sua carreira aflorou lá. O disco, com uma musicalidade sensacional, traz belissimas canções cheias de feeling, começando por "Take me, Take me" na belissima voz de Bill Campbell. Como não poderia deixar de ser, para um disco inglês da época, há uma pitada de early. Destaca-se as duas pedras de Eugene Paul, roots com muita emoção. Há ainda a belíssima versão de "My Girl" dos Templations, interpretada pelo famoso anônimo desconhecido Neil (?), que também canta a faixa "Cecilia", que por muito tempo rodou pelo Maranhão. Mas, pessoalmente, destaco a música "Cindy Brown - Honey Darling", uma PEDRA! (sorry people from other countries, "pedra" is a brazilian word that means "a good reggae song", something that i can´t explain, something to feel, yunno?!. Sorry again for this bad english.)
OBS. A capa traz "GINGER WILLIAMS - I Can't Resist Your Tenderness", mas a própria só canta uma música (que acho a pior do disco). Estranho ou não, o disco é sensacional.
V.A. - I Can't Resist Your Tenderness Bill Campbell - Take Me Make Me Bill Campbell - Strange World Eugene Paul - Moving Into The City Cindy Brown - Honey Darling Ginger Williams - Tenderness Ronnie & Tony - Out The Fire Neil - Cecillia Neil - My Girl Fay & Dennis - Message To You Eugene Paul - Hey Little Girl Ginger Williams - Little Boy Fay & The Bitter Sweet - Beautiful Dream
The Blues Busters - Each One Teach One [ R A R E ]
Não há receita pronta pra se fazer reggae. Mas se houvesse, os ingredientes seriam diversos: Umas xícaras de africanidade, umas pitadas da fusão cultural jamaicana, umas colheres da música gospel (não a dos evangélicos, claro) um toque caribenho, e, como não poderia deixar de ser, uma boa parte de música do sul dos Estados Unidos. Pronto, junte tudo numa panela e FIRE!! Seria bom que as bandas brasileiras (e outras demais da atualidade) conhecessem os INGREDIENTES que fizeram o reggae, para não simplesmente copiar a receita final. A Jamaica fica no Caribe, no meio de diversos países de língua e cultura hispânica, porém, pela língua e pelas afinidades culturais, sempre foi mais ligada ao Sul dos Estados Unidos, que tem uma forte cultura negra. E aí, logicamente, com as radios de alta potência chegando a Jamaica, além de centenas de discos de blues, RnB e soul é natural que o reggae tenha bebido dessa fonte. Muitos cantores, não fosse o acompanhamento, seriam facilmente confundidos com cantores estadunidenses, como Jackie Edwards, Jimmy London, Owen Gray, Junior English, Ken Parker, Pat Kelly, etc. Mas há ainda outros que, apesar de originais, foram influenciados, como Delroy Wilson e Horace Andy, o Curtis Mayfield do Caribe.
O disco a seguir mostra essa influência. Nas vozes, nas melodias, etc. Mas é Jamaicano, da gema. Foi produzido por Byron Lee (que sempre teve uma queda pela música estadunidense) e acompanhado pelos Dragonaires. A dupla, Phillip James e Lloyd Campbell traz um disco belíssimo com belas melodias e vozes. A dupla começou a gravar no final da década de 50, fazendo versões de RnB. O forte do blog não é o early (para isso visite o You & Me On a Jamboree ), mas é esscencial, para qualquer colecionador de reggae, conhecer as suas facetas. O disco traz "Wild World", que virou sucesso na voz de Jimmy Cliff, além de Something, numa versão soul dos Beatles. Mas o destaque mesmo vai pra faixa Thinking of You, para os corações apaixonados ("...All that I can see, when you not with me is your picture...").
The Blues Busters - Each One Teach One United We Stand Something Each One Teach One Wild World Reggae All The Way Holly Holy To Love Somebody What Can I Tell Her Thinking Of You Singer Man
Let´s go back to the early 70´s. O reggae tornava-se cada vez mais popular na Jamaica e já representava a ilha fora, principalmente na Inglaterra. Em Kent Village, um simples pintor de paredes, incentivados por seus amigos de trabalho que o ouviam cantar durante a labuta, resolveu tentar o ramo da música. O começo não foi fácil, mas ele persistiu. Segundo conta-se, ao pisar no palco de um festival, Eric Donaldson, até então um simples desconhecido, foi recebido com vaias e insultos. Vale lembrar que, na Jamaica, o termo "quashie", ou seja, caipira, tem um sentido perjorativo fortíssimo. Na segunda parte da música "Cherry Oh Baby", boa parte da platéia já estava de pé e aplaudindo, ovacionando o vencedor deste e de um número incontável de outros festivais ao longo dos anos. A música, que foi regravada dezenas e dezenas de vezes (inclusive pelos Rolling Stones), tornou-se um marco da música jamaicana e a voz de Eric Donaldson, marcada para sempre. Tente imaginar, sequer, um cantor que tenha um timbre semelhante ao do "Capelobo". Já no início da década de 90, Eric veio ao Brasil (ver foto). Até hoje, foram vários shows pelo país. É incontestável o número de sucessos entre a massa regueira de São Luís, Fortaleza, Belém, etc.
O disco a seguir relembra a fase de ouro de Eric. Foi lançado em 1976 e ainda tem uma pegada de early numa época em que o Rockers começava a dominar a cena. O certo é que "Keep On Riding" mostra Eric dando o seu melhor, com as mais belas melodias, com sua voz única e com o acompanhamento sensacional da banda de Byron Lee. É ouvir e pirar.
Eric Donaldson - Keep On Riding 01-Keep On Riding 02-The Way You Do 03-Are You Thinking Of Him 04-I Think I Love You 05-Warm Love 06-Follow Me 07-You Must Believe 08-Look What You Have Done 09-A Weh We A Go Do 10-Blue Roots 11-Same Old Love 12-Am I Crying 13-Ain't Too Proud To Beg 14-Norma Jean
Não tenha dúvida, Antônio José, também conhecido como O Lobo, é, certamente, o mais importante Dj de reggae do Brasil. Falecido há mais de uma década, o "The Number One" ainda é lembrado em toda São Luís e demais cidades como o dj que abalou multidões no comando da Radiola Estrela do Som (a amarelinha) e, principalmente, foi o mais original de todos, sendo, hoje, copiado por centenas de de outros dj´s pelo Brasil, cativados por sua energia e profissionalismo. Responsável pelo lançamento de diversos sucessos, como o Melô de Antº. José (Larry Marshall - Brand New Baby), Melô de Cólera (Jr Murvin - Man is The Fire), Leo Simpson - I´m a Believer, dentre muitos outros, que ainda hoje batem forte nas radiolas do país, e que, sem ele, dificilmente seriam o sucesso que são. E até o reggae, sem Antônio José, não seria o que é.
O reggae tem diversas facetas. Da euforia do country reggae à melodia do lovers rock style, da magia do early reggae à psicodelia do Dub. Mas algumas bandas e cantores dedicaram-se, também, à fazer músicas com temas de protesto. Na década de 60 e 70, o mundo vivia um momento importante. Depois de séculos de opressão branca, física, política, ideológica, o negro podia, pela primeira vez, ser adorado. Criou-se a idéia da beleza negra, que até então era algo considerado absurdo (no Brasil, Jorge Ben chegou a lançar o LP "Negro é lindo"). Mas não tratou-se somente de uma revolução cultural, senão, política e ideológica. Nos Estados Unidos, formou-se o grupo dos Panteras Negras, ou Black Panther, famoso por sua ousadia em enfrentar o poder branco com o jargão "Power For The People" e a idéia de "Black Power", que só depois se associou a um corte de cabelo (corte esse que, também, é rebelde, pois, numa época em que os negros raspavam a cabeça, o modelo deixava a mostra toda a negritude do cabelo, sem ser discreto). Nas Olimpíadas da Cidade do México, em 1968, Tommie Smith e John Carlos, atletas estadunidenses, que haviam ganhado medalhas, fizeram o gesto símbolo do Black Panther, a mão em punho levantada (e por isso foram banidos do esporte). Já na África, vários países se tornaram independentes nesse momento de consciência negra. Logicamente, a Jamaica, como país negro e de língua inglesa, não ficava por fora de toda essa movimentação. Aos poucos, as idéias dos movimentos negros chevaram à ilha. Martin Luther King, Malcolm X, Lumumba, Mandela, todos, logo se tornaram conhecidos e influenciaram muita gente, inclusive muitos músicos, como o romântico Alton Ellis em "Rise Blackman"de 1971. As idéias da consciência negra logo fundiram-se com os dogmas Rastafari, e o resultado serviu de base e influência para músicos e cantores numa Jamaica que, à essa altura, tentava se construir depois do processo de Independência de 1962.
A coletânea Tuff Days reúne o trabalho de vários artistas que, tendo por base essas idéias, compuseram músicas belíssimas e teceram uma nova faceta do reggae: O conscious reggae ou roots and coltcha style. O cd traz, inclusive uma linha evolutiva, começa de um jeito, termina de outro, passando pelas mais diversas melodias e pelas obras de gente como Tommy Mccook, Lee Perry,Horace Andy, Augustus Pablo, Ras Michael, além de vários sons raros. As músicas foram colocadas em posições únicas e numa mixagem especial, sendo dividas em 6 capítulos. Não é um cd para salão, ou seja, é para ser ouvido com calma, e não pra ser dançado. É lógico que é sensacional que existam sons dançantes (e eu particularmente prefiro esses) mas é bom, também, conhecer e curtir o BOM reggae em suas diferentes caras. Espero que gostem.